Traduzido para Diário Liberdade por Lucas Morais
Foi fomentando desde sexta-feira pela tarde, quando familiares de mártires começaram uma manifestação pacífica aberta em Maspero, no edifício de Rádio e TV. Por "mártires" eu quero dizer aqueles mortos durante a revolução de 25 de Janeiro – Jan25. As famílias querem que os assassinos de seus entes queridos sejam punidos. Até hoje aqueles assassinos estão soltos: francoatiradores, policiais, mercenários. Todos eles estão por aí: livres, vivendo, respirando, aproveitando a vida.
Fui à Maspero na sexta-feira pela noite. Havia uma pequena multidão
Julgamento adiado... de novo!
As coisas pioraram no domingo no julgamento do ex-Ministro do Interior, Habib el Adly e seis das principais cabeças dos departamentos de segurança em seu ministério. O julgamento de Adly e amigos por atirarem contra manifestantes durante a revolução de 25 de Janeiro foi adiada pela terceira vez consecutiva. Adly está atualmente servindo uma sentença de 12 anos por lavagem de dinheiro, mas este caso é diferente. Este caso é o que importa para a maioria dos Egípcios. Ele e seus comparsas, ex-figuras do Ministério do Interior, são acusados de orquestrar com oficiais de polícia e policiais a repressão de manifestantes durante a revolução. Adly é acusado pelo Promotor Geral de Justiça de ter intencionalmente planejado a repressão e cortado todas as comunicações de modo a fazer isto silenciosamente. Fui avisada por ativistas e repórteres que a atmosfera estava tensa.
As famílias dos mártires queriam participar do julgamento. Eles negociaram com a polícia que eles poderiam enviar uma delegação para representá-los. Mas a resposta foi: Não. Então, quando a sessão estava no seu terceiro minuto, quando a corte anunciava que o julgamento foi adiado – novamente –, as famílias ficaram nervosas. Já se foram 5 meses agora.
As famílias acabaram jogando pedras e blocos de mármore nos carros que transportavam Adly e outros seis acusados que deixaram a corte enquanto cantavam pela execução de Adly. As coisas ficaram muito tensas. As pessoas estavam com ódio. A polícia teve que dar alguns passos atrás enquanto o exército entrava em cena.
O motivo dado pela corte para o adiamento do julgamento é o segundo caso que está demandando uma substituição do juiz e seu time nomeado para o caso de Adly, em função das supostas ligações do juiz com o agora dissolvido aparato de Segurança do Estado. Atualmente este mesmo juiz recusou assumir o julgamento de Mubarak.
Então basicamente a Cabeça do ex-regime, o deposto presidente Hosni Mubarak, está instalado em um hospital em Sharm el Sheikh. Rumores sobre sua doença nunca foram confirmados. Muitos me garantiram que "este homem está pretendendo ficar doente justamente para escapar do julgamento". Seu ex-Ministro do Interior não está sendo julgado por matar manifestantes.
Confrontos de terça-feira
As famílias reunidas em Maspero desde sexta-feira foram avisadas sobre um evento em homenagem às famílias dos mártires no Teatro Balão na terça-feira. Então eles marcharam para ali para dizerem a eles que eles não estão convidados. Eles ficaram nervosos. Eles estavam carregando fotos de seus entes queridos, mortos nos protestos. Disseram-me que um grupo de rapazes pró-Mubarak de repente atacaram as famílias que, disseram-me, tentaram pular a cerca para adentrar no teatro. Então a coisa ficou feia. Confrontos eclodiram entre os dois lados. A polícia apareceu e ao menos uma pessoa foi gravemente ferida por um bastão elétrico. O vídeo da agressão foi postado por Gigi Ibrahim (@GSquare86 no Twitter). Isto lembrou as pessoas das práticas policiais da Era Mubarak.
Então um grupo de famílias e seus apoiadores marcharam pelo Ministério do Interior e foram rumo à Praça Tahrir. Notícias viajaram rápido e logo a eles se somaram vários apoiadores e ativistas.
Na Praça Tahrir haviam cerca de 2000 pessoas. Havia gás lacrimogêneo sendo jogado a cada poucos minutos em diferentes direções da praça, vindo das ruas próximas bloqueadas pela polícia. Pude ver apenas homens jovens comuns. Poucas mulheres estavam por ali. Alguns disseram para mim: "Nossos mártires se sacrificaram por nós, nós não os deixaremos".
"O Povo Quer Derrubar o Mushir" (Marechal de Campo – Cabeça do Supremo Conselho das Forças Armadas) é a palavra de ordem que mais escutei. Mas ali estavam outras palavras de ordem contra a ordem militar no país: "Abaixo com a Ordem Militar", e contra o Ministério do Interior: "Ministério do Interior continua o mesmo, isto é apenas uma brincadeira".ortant;">
Sou jornalista
Eu me aproximei dos pontos de confronto entre policiais e manifestantes próximo a al Qasr al Aini, uma das entradas para a praça. Manifestantes estavam jogando pedras nos carros da polícia. Alguém me deu uma pedra. Eu disse: "Eu sou uma jornalista". Ele disse: "Torne-se uma ativista, tente isto, jogue contra os 'porcos' (modo como se referem entre ativistas), é uma experiência muito liberadora". Eu olhei para a distância e imaginei como isto poderia ser feito, e me dei conta de que eu provavelmente atingiria um manifestante caso eu não chegasse bem perto de um policial, face a face! Entretanto, eu sou uma jornalista internacional. Eu entreguei a pedra a um manifestante. Como me mantive ali assistindo, alguém muito próximo de mim jogou um molotov na polícia. Perguntei se alguém sabia sabia quem era ele. Ninguém podia responder. Gases foram jogador novamente. Eu corri para outra rua.
Quando me recuperei encontrei meu colega da Al Jazeera com sua turma. Eu não estava no meu turno. Trabalhei no turno da manhã, então este fato era para outra pessoa cobrir. Eu vim para Tahrir por conta própria, não pela Al Jazeera.
Bandidos?
Eu reconheci alguns ativistas pro ali. Perguntei se havia algum "bandido". Disseram-me que não havia. Eu questionava quem havia jogado molotov na polícia. Alguém me disse: isto deve ser um infiltrado para fazer nos olharem como manifestantes violentos.
Para frente e para trás os manifestantes tiveram que correr do gás, então voltaram em direção à polícia. Naquele momento eu vi as forças de segurança central, uniformizadas, permanecendo na praça próximos aos seus carros, muito próximos dos manifestantes.
Eu vi dezenas de manifestantes deitando no chão, chocante. Outros pareciam inconscientes. Mas ninguém tinha medo. Eles estavam determinados a não deixar a praça. Isto foi no dia 28 de Junho, exatamente cinco meses após o 28 de Janeiro, a Sexta-feira de Ira na revolução.
O próximo 8 de Julho
Isto foi fermentado. Não estou surpresa em ver isto acontecendo. Civis estão sendo julgados em cortes militares por todos os tipos de acusações enquanto ex-oficiais do regime estão sendo julgados em julgamentos civis, e um dos julgamentos que mais importa está sendo adiado, enquanto o deposto homem forte do regime está em Sharm el Sheikh.
Como eu decidi deixar a praça às 1h30 da manhã, quando minha as baterias do meu telefone e câmera acabaram, ouvia pessoas cantando: "Na Praça até a Mudança Acontecer" (Bil Tahrir Hatta el Taghyir). Logo pensei no dia 8 de Julho, que é o dia que está planejada a marcha dos milhões em Tahrir... Uma marcha contra o presidente do Egito, isto é o Supremo Conselho das Forças Armadas (SCAF), isto é, o exército. Eu vi soldados do exército a alguns quarteirões da praça. Eles não estavam preocupados com o que estava ocorrendo. Eles tentaram nos dizer que não poderíamos sair (fora da área de Tahrir) mas nós o convencemos a nos deixar passar. Eles foram "bons" companheiros, com sorrisos. Lembrou-me quando o exército estava em espera (stand by) enquanto manifestantes eram massacrados por mercenários e pela polícia durante a revolução.
Então o povo do Egito irá participar da marcha antiexército de 8 de Julho? Veremos. Muitos Egípcios parecem estar em negação sobre o regime não ter ido com Mubarak e preferem se prender à única coisa segura (quase sagrada) coisa em sua vida agora: o exército.
1 comment:
Espero que eu esteja entendendo mal o que está acontecendo no Egito, poque pelo que estou entendendo, os militares estão impondo a si mesmo a impunidade entre os seus que cometeram crimes durante as revoluções de janeiro prá derrubada do Mubarak, e também estão se impondo no poder, e de forma não tão silenciosa. Mas se nem todas as notícias são ruins, há de se comemorar que o povo egípcio se mantém mobolizado e não parece estar disposto a aceitar outra coisa que não uma democracia de verdade. #ForçaEgito!!!
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