11 Apr 2011

Proibição de voos sobre... GAZA?!?!


11 de abril de 2011
Tradução Espanhol-Portuguȇs: Victor Farinelli
Publicado em blog da Maria Frȏ (obrigada Maria, Victor)

Muito interessante a decisão tomada pela Liga Árabe, no domingo 10 de abril, sobre Gaza. Mais que interessante, foi surpreendente. Uma mudança de 180 graus nas posturas do organismo que agrupa os 22 países árabes. 

Surpreendente porque a Liga Árabe nunca foi ligada aos povos árabes, ou melhor, sempre esteve ligada a líderes árabes que jamais representaram o sentir das populações por eles governadas, tampouco costumam consultar a opinião pública antes de tomar decisões coletivas em nome dos seus povos, através dessa organização regional.

Quando escutei que a Liga Árabe tinha pautada uma reunião extraordinária para o último domingo, sequer me pareceu um assunto digno de um tweet, embora me tenha chamado a atenção o fato de a Liga se reunir para falar sobre Gaza e no começo uma nova escalada de violência na região - e não no final da guerra, como costumava fazer até então.

A Liga Árabe sempre passou muito mais tempo debatendo sobre se vão ou não se reunir, quando, com quem e onde, do que efetivamente reunida ou tomando decisões.

Ninguém esperava! A Liga Árabe, representada pelo Secretario General Amro Moussa, de repente, pede uma zona de exclusão aérea sobre Gaza e o fim do bloqueio israelense sobre Gaza, entre outras coisas. Diz que vai levar seu pedido de zona de exclusão aérea ao Conselho de Segurança das Nacões Unidas, aparentemente, da mesma forma que agiu no caso da Líbia.

Realmente impressionante.

Me incluo na lista dos muitos que tínhamos escrito muitas vezes, via twitter, sobre a dúbia moral: zona de exclusão aérea sobre a Libia, mas não sobre Gaza.

É surpreendente que um desejo dos cidadãos comuns árabes se reflita, ainda que seja só no papel, num comunicado da Liga Árabe. Este é um passo enorme e uma novidade histórica

A Liga Árabe, pela primeira vez, não aparece com os conhecidos comunicados vazios que não dizem nada, senão com uma proposta verdadeira e concreta, e, além disso, contra Israel, quem levou adiante sua guerra contra Gaza sem que a Liga Árabe o impidira, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009.

Também é certo que a Liga Árabe se coloca ela mesma frente a um grande desafío, uma verdadeira batalha dentro da ONU.

POR QUE?

Senão vejamos, o que haveria levado à Liga Árabe a essa decisão histórica?
1- Claramente, o tsunami de revoluções árabes, também conhecido como tunisami árabe (porque começou na Tunísia), teve seu impacto sobre a organização, que sente que já não pode seguir atuando com o silêncio e a ausência de antes.
2- O principal defensor regional de Israel e dos interesses de Israel, Hosni Mubarak, jça não está no jogo.
3-   Amro Moussa está empenhado em sua campanha eleitoral presidencial no Egito. Está claramente usando a Liga Árabe como plataforma eleitoral, para melhorar sua imagem.
4-   É possível que também os líderes árabes apoiem a candidatura de Moussa para a presidència do Egipto, e assim apoiariam também que tenha um rol protagônico neste momento. Afinal, Moussa é um deles, e um conhecido sempre é melhor que um desconhecido. Moussa leva 10 anos encabeçando o clube dos ditadores árabes, e, antes disso, havia passado outros 10 anos como chanceler do Egito até que Mubarak se desfez dele, enviando-o à Liga Árabe, porque sabia de suas ambições presidenciais.

No fim das contas, a decisão sobre se Moussa serve como presidente será do povo egípcio, evidentemente, e não da Liga Árabe. 

DESAFIO À ONU

Independente dos motivos que existem por trás da decisão da Liga Árabe, agora é importante fazer um seguimento do seu pedido de impor uma zona de exclusão aérea. É preciso acompanhar  para ver se a Liga Árabe realmente levará o assunto ao Conselho de Segurança, e se conseguirá fazer algo concreto contra o bloqueio israelense a Gaza.

Se, de uma sessão do Conselho para discutir o pedido da Liga, chega a se produzir o rascunho de uma resolução, seria interessante ver, no quem usará o veto, senão quem NÃO o usará, entre os cinco membros permanentes. Seria interessante ver, não quem votará a favor, senão quem NÃO votará contra, entre os outros países membros.

Assim, se evidenciaria a dúbia moral e a grande hipocrisia da chamada comunidade internacional. O sistema internacional estaria completamente exposto diante do mundo.

Mas não creio que chegue a tanto, já que Israel e seu aliado e protetor mundial número um, os Estados Unidos, normalmente barram qualquer tentativa de discussão ou de redação de uma resolução que ameace diretamente os interesses de Israel.

De qualquer forma, esta é uma prova para a Liga Árabe, antes de ser uma prova para as Nações Unidas. Já as expectativas sobre a Liga Árabe não são as mesmas de antes. Não há como voltar atrás. Esta situação abre o debate sobre sua falta de ação frente à última guerra contra Gaza e até mesmo a sua possível responsabilidade sobre as vidas palestinas que se perderam por sua inércia. Também abre o debate sobre os exércitos árabes, antes completamente ausentes e invisíveis. Mas agora já sabemos que existem, aí estão os tanques de Arábia Saudita no Bahrein e os aviões do Qatar, dos Emirados e da Jordânia sobre o espaço aéreo da Líbia.
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1 comment:

Victor Farinelli said...

Seria mui interessante se essa decisão da Liga Árabe generasse a votação do Conselho de Segurança, embora a própria autora ache isso pouco provável, e na verdade eu também acho que a hipótese mais factível (na minha pessoal opinião, que pode não ser certa) é a de que isso não é mais que uma estratégia para impulsar o Amro Moussa como candidato a presidente do Egito.

Mas, se temos sorte, poderíamos ver caírem as máscaras na ONU e no Conselho de Segurança.